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Bernardo Vidal Pimentel

2021 - 3ª e 4ª Semana de Dezembro

Atualizado: 10 de jan. de 2022



Depois de uma pausa natalícia, cá voltamos nós.


E eis que mais um ano chega ao fim. Por tudo o que de mau vivemos no que toca à pandemia, parece-me que, em comparação com o ano passado, estamos tremendamente melhor. Lembram-se quando há um ano ainda só tínhamos a dexametasona como terapêutica bem estabelecida? Pois bem, entretanto tudo mudou. Principalmente com o impacto estrondoso das vacinas (lembro-me bem da surpresa optimista ainda no final de 2020 que senti ao ver aquelas curvas de Kaplan-Meyer a repelirem-se quase magneticamente no artigo do 1º ECA a que tivemos acesso, o da BNT162b2-Pfizer), mas também com todas as outras terapêuticas que têm vindo a surgir. E com isto, o futuro parece sorrir. Não introduzi o texto de hoje com isto por acaso, pois, como poderão ver, a publicação nestas duas semanas de temas covidescos é, além de muita, muita boa. Mas calma que já lá vamos.


Mais 2 RS de ECA no mundo obeso (tentativa de fuga generalizada ao grupo de risco?):

  • Nada de muito novo, na verdade. No Lancet vimos que os aGLP1 e o Topiramato são os fármacos mais eficazes para perder peso (aGLP1 mais seguros em sub-análise), e no JAMA vislumbrámos um (fraco) sinal de melhoria de várias variáveis de substituição (surrogate markers) com o jejum intermitente (cautela, pois muitas vezes em comparação com um grupo de controlo que pode não ser um de dieta saudável).

Dos ECA:

  • No que toca ao COVID-19 foram tantos que não cabem nem nos dedos nem no cérebro.

  1. Destaco principalmente: vacinas (nova vacina), vacinas (estratégia de combinar vacinas) e mais vacinas (booster em renotransplantados)!

  2. Doentes de ambulatório: o discordante novo ECA do remdesivir (mesmo acreditando neste ensaio de amostra muito mais reduzida que o SOLIDARITY, continua a ser muito pouco prático fazer 3 dias de remdesivir IV em doentes de ambulatório)

  3. Hospitalizados não-vacinados em fase inicial de doença: o antiviral molnupiravir (aguarda-se publicação do paxlovid) e anti-corpos monoclonais em seronegativos eficazes a prevenir doença grave.

  4. Hospitalizados mais doentes: mais um inibidor da GM-CSF que parece eficaz.

  5. Pós-alta: a controversa e discordante anti-coagulação, neste caso com rivaroxabano.

  • No mundo cirúrgico, com alguma surpresa, a anestesia regional não diminuiu o dellirium pós-operatório vs. anestesia geral, e um original modelo de educação com vídeos animados aumentou a satisfação dos doentes pós-operados a cirurgias de cabeça e pescoço ( medidas simples e eficazes! )

  • Na Neurologia, o suplemento com Omega-3 não diminuiu o risco de demência

  • Destaco ainda o ECA que comparou um modelo de redução de vigilância nocturna dos sinais vitais com cuidados habituais. O outcome primário de redução de dellirium não cruzou a meta definida para estatisticamente significativo, apesar de tendência numérica de redução. Apesar disso, diminuiu a monitorização dos sinais vitais nocturnos sem aumento de transferências para UCI ou Emergências hospitalares, pelo que seguramente aumentará a higiene do sono dos doentes e enfermeiros.



Das revisões de estudos observacionais:

  • A estratégia de limiar de D-Dímero adaptado foi superior à estratégia de limiar fixo na exclusão de TEP

  • Na área da terapêutica reumatológica, as recomendações de consenso feitas por entidades patrocinadas pela indústria foram discordantes com as recomendações das sociedades médicas.


Dos observacionais:

  • COVID-19 x10 - Acho difícil não ficar optimista face às novidades recentes

  1. A pergunta do dia é: e a omicron? A carta de pesquisa publicada já quase no final do ano mostra-nos que esta 4ª vaga sul-africana é muito menos grave do que as outras (por exemplo: a mortalidade hospitalar é de apenas 2.7% comparada com >20% das outras vagas).

  2. A efectividade dos boosters vacinais em reduzir doença grave e mortalidade em grupos de risco parece cada vez mais real. Apesar de ainda não termos ECA a estudar este outcome, os vários e largos estudos observacionais publicados neste período apontam todos para esse benefício.

  3. Saliento também um estudo da efectividade vacinal face à variante Delta no Utah. Mesmo nesta variante aparentemente mais grave, a menor efectividade em redução de doença grave encontrada neste coorte foi pouco significativa (~7%).

  • Nas outras áreas, é tanta coisa que não posso destacar tudo, mas:

  1. O apixabano continua a ter indícios de superioridade face ao rivaroxabano (aguardamos ECA)

  2. O e-cigarette foi eficaz a reduzir o tabagismo mesmo em pessoas que não pretendiam deixar de fumar

  3. O questionário 3D-CAM aplicado de forma generalizada aumentou o diagnóstico de dellirium pós-OP e os principais factores relacionados com analgesia que os doentes pós-OP salientaram foram redução de dor e redução de dependência a fármacos.

  4. Trombectomia poderá vir a ser eficaz em AVC por oclusão da artéria basilar (aguardamos ECA)

  5. Várias demonstrações da utilidade de inteligência artificial em diferentes áreas


Nos artigos de opinião:

  • Aconselho a leitura dos artigos provocadores de pensamento que vos deixo em baixo sobre COVID-19.

  • Novidades boas: bem-vindo ao mundo encantado onde um dispositivo de realidade virtual para tratamento de lombalgia crónica foi aprovado pela FDA (com base num ECA do início do ano) e avizinha-se uma vacina mRNA anti-VSR (ECA em curso) !


Na estimulante FOAMed, leiam, vejam e oiçam quem realmente disto sabe (obviamente que não eu).


Atentai e disfrutai, e que a boa-nova da ciência deste renovado ano nos iluminai!


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