A verdade é outra coisa qualquer?
Esta semana trago um conjunto de artigos com domínio de tipologia a tender para o topo da pirâmide da prova científica (Natal a chegar?), o que são sempre boas notícias.
Quatro foram as RS de ECA que me aguçaram o olho:
Destaco a RS que avaliou o spin (misleading reporting) em ECA de não-inferioridade da Oncologia, cujo outcome primário não atingiu a meta classicamente definida para estatisticamente significativo......supresa surpresa, a percentagem foi um alarmante 75% - 3 em cada 4 ! Mais uma vez, é reforçada a necessidade de ler e interpretar os métodos e os resultados (há quem diga que só esses bastam e tendo a concordar) com os nossos próprios olhos. Tudo o resto é vaidade e vento que passa !
Destaco igualmente a RS que avaliou os 6 ECA publicados à data sobre encerramento de FOP em doentes com acidente vascular cerebral criptogénico, de uma forma original e provavelmente lógica - avaliando a heterogeneidade do efeito de tratamento. Recomendo ler não só a revisão como também a excelente análise do sensato John Mandrola no TWIC, mas, resumidamente e com ressalvas, a relação benefício/risco parece vantajosa para o encerramento em doentes cujo o efeito causal do AVC por FOP seja possível ou provável segundo o score PASCAL.
Dos ECA:
No COVID-19, o COV-BOOST, um ECA bem desenhado vindo do RU, veio confirmar que a resposta serológica é eficaz depois da 3ª dose com uma das várias vacinas disponiveís em participantes com mais de 30 anos. Permanece a mesma questão da eficácia clínica para doença grave e mortalidade.
No Doente Crítico, o aguardado BOUGIE não encontrou diferença entre o bougie e o stylet para a entubação bem sucedida na 1ª tentativa. Recomendo a análise do First10EM, mas a grande crítica é a baixa taxa de sucesso de 80% em ambos os grupos ser aquém do desejável para uma taxa média de entubações bem-sucedidas.
Por último, terá o transplante fecal de microbiota finalmente encontrado utilidade (neste caso, na indução de remissão de colite ulcerosa activa depois de ciclo de abt) ? Depois, 1º medicamento para S. Sjogren Primário (relevância clínica discutível...) e novos medicamentos em esquemas oncológicos sem grande benefício (olhar sempre para o OS ou overall survival e não nos deixemos cair no spin tentador)
Dos observacionais:
RS sobre a fiabilidade das guidelines sobre tratamento hospitalar de COVID - não se deixem enganar! Ainda neste tema da moda, a imunidade natural manteve-se contra o vírus original e variantes alpha e beta até um ano após a infecção (!).
Na sempre produtiva área Cardiovascular:
- incerteza sobre a associação da LDL com a incidência de enfarte do miocárdio
(neste caso, quando comparado com a ApoB) fazem-me, mais uma vez, tecer
dúvidas em relação à hipótese LDL ( ver para aprofundar )
- ex-tabagismo inapropriadamente excluído do score ASCVD ( incluído noutros )
- mais coisas boas a fortalecer o impacto dos iSGLT2
Na Neurologia, algumas associações interessantes em estudos retrospectivos (com todas as limitações e vieses que delas advêm)
De resto, mais uma associação retrospectiva a favorecer apixabano vs. rivaroxabano
Dos outros:
Recomendo vivamente a leitura da sucessão de Veredictos MBE do BMJ EBM a resumir várias das novidades dos últimos 2 anos. Destaco a carta sobre a re-análise da trombólise entre as 3h e 4.5h (tema complexo, cujas nuances são, infelizmente, desconhecidas da maioria dos hospitalistas urgencistas - ler).
A rúbrica sempre reflexiva e positivamente provocadora Less is more, desta vez sobre a restrição física dos doentes - ler, exame de consciência e reflectir !
Na FOAMed:
Ler e/ou ouvir o último ep. dos Curbsiders sobre HTA hospitalar - se ainda és daqueles que usa urgência hipertensiva e prescreves captopril SOS, necessitas disto! (para mais, ler o artigo sobre o tema da rubrica TWDFNR)
Mais um equivalente STEMI a ter em conta - STDmaxV1-V4 !
Profilaxia TEV para doentes médicos - vale a pena? Já de há uns meses, mas actualíssimo para qualquer hospitalista.
Atentai!
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Best Evidence: VTE prophylaxis in medical patients: is it worth it? - TI
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