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Bernardo Vidal Pimentel

Julho de 2023 - #1 ClopiGraal ...e operação biquíni à porta



No substack: esFOAMeados


TABELA DE CONTEÚDOS

 

SINOPSE


🎂 Nata da nata

- DAC --> iP2Y12 > ASA (tanto eficácia como segurança)

- Alopécia areata --> iJAK eficazes e sem EAs

- ECAs da indústria --> Spin na conclusão


🍰 Nata

- DM2 --> Novo agonista triplo (reatrutido) eficaz em fase 2 | Semaglutido PO 25 ou 50mg melhor que 14mg? | Orfoglipron (agonista parcial GLP1 PO) agora também na DM2 | CagriSema (cagrilintido=amilina + semaglutido) não superior a...Sema

- Obesidade --> Jejum intermitente igual a restrição calórica | Semaglutido PO 50mg eficaz mas muitos EAs | Tirzepatido (agonista duplo) em fase 3

- Hemiatroplastia anca --> Abt local dupla não-superior a simples


🧐 Observações

- Revisões sistemáticas: DM1 e enterovírus (++B)

- Primários: TEV não-provocado e custo-efectividade | PERC rule e TEP | DM2 e obesidade a aumentar | Pancreatite aguda por hiperTG e plasmaferése

- Casos e séries: Amiloidose hereditária e sinal de popeye


Opiniões

- Revisão narrativa: Avaliação da congestão venosa (VExUS)

- Perspectiva: Conversas sobre objectivo de cuidados | Lei da "eutanásia" em Portugal | M. pneumoniae...sumiu?


🌎FOAMed

Lipoproteínas não-tradicionais (Lp(a) e ApoB) e RCV | Debate sobre PanTC | Estado da arte na medicina intensiva | Update na via aérea de 2023 do SW

 

META-REVISÃO

Meta-investigação & MBE

93 MA, estudo transversal de todas as meta-análises publicadas em 5 jornais oncológicos, 2018-2021

Interessantíssimo (como quase tudo o que sai do VK Prasad Lab) e aplicável certamente a outras áreas extra-oncologia. De todas estas quase uma centena de meta-análises, parece que a metodologia entre estudos da indústria e outros não foi muito diferente...mas...o tom ou o spin da conclusão foi muuuito maior (reparaste no meu tom, zé?): conclusões positivas em 80% quando selo da indústria por trás vs 50% quando no big pharma. Como isto não me espanta. Basta abrir um qualquer jornal médico (sobretudo NEJM...). Enfim, não acho nada que a indústria seja o diabo travestido que muitos dizem ser...mas claro que tem um objectivo, lucrar. E tudo bem, toda (ou quase toda) a gente o quer. O pior são mesmos os médicos (e as agências reguladores) deixarem-se enganar pelas letras gordas spinadas.


 

REVISÕES SISTEMÁTICAS de ECAs

Cardiovascular

7 ECAs / n=24.325, IPD-MA PROSPERO/PRISMA/CRob2, Medline/EMBASE/3 cardio websites até 06/2021

P - DAC estabelecida + Tratamento anti-plaquetário em monoterapia

*ECAs: 1 em DAC estável +- ICP (clopidogrel) | 2 em EAM prévio (clopidogrel) | 2 pós-ICP (clopidogrel e ticagrelor) 2 pós-EBAC (ticagrelor)

**ECAs: 5 com >1.000 doentes | 3 com >5.000 doentes: 2 clopidogrel - CAPRIE (EAM prévio) e HOST-EXAM (pós-ICP) ; 1 ticagrelor - GLASSY (pós-ICP)

I - Inibidor P2Y12 clopidogrel (60%) ou ticagrelor (40%)

C - Ácido acetilsalicílico

O 1º » Menor MACE após 2A - HR 0.88 (IC 95 0.79-0.97), p=0.012

2º » Menos EAM após 2A - HR 0.77 (IC 95% 0.66-0.90), p<0.001

» Igual/menos? Hemorragia major - HR 0.87 (IC 95% 0.70-1.09) p=0.23

» Melhor "Balanço de eventos adversos" (NACE = MACE + Hemorragia M) - HR 0.89 (IC 95% 0.81-0.98), p=0.020

Comentário: E aqui está, meta-análise com análise individual de doente sobre a comparação de ácido acetilsalicílico com inibidores P2Y12 (clopidogrel e ticagrelor) em monoterapia. Para quem já me ouvi falar ou escrever sobre isto, tenho dito que, depois do HOST-EXAM, torna-se bastante discutível preferir ASA a clopidogrel, já que este foi superior tanto em eficácia como em segurança (a não ser que ignoremos o ECA de >5.000 doentes). E voilà, esta MA de 7 ECAs (maioria largos) confirma que os iP2Y12 são tendencialmente mais eficazes e até talvez mais seguros...mas, dizei vós, os iP2Y12 não são iguais, certo? Claro, foi também a minha ideia automática ao ver que redução de hemorragia major não foi estatisticamente significativa, pensar como seria se tivessem analisado apenas o clopidogrel, que tem teoricamente menor risco hemorrágico (e menor eficácia)...além disso, as populações foram diferentes. Mas calma, os autores precavarem-se para estes chicos espertos como e representaram-no graficamente por ensaio! Ora vejam em baixo.

MACE:

Hemorragia major:

NACE (MACE + Hemorragia major):

Dúvidas? Já percebem porque gosto tanto do HOST-EXAM? Será que é suficiente para mudar o ponteiro para o clopidogrel? Dúvido, até entrar numa tabelinha duma qualquer norma com o I verdinho talvez não mude. Hoje em dia, parece que a maioria dos médicos só faz ou não faz o que a guideline diz, para o bem ou para o mal.

Conclusão: Aspirina parece globalmente pior que iP2Y12 (clopidogrel e ticagrelor), sobretudo à custa de menor eficácia e segurança que clopidogrel após intervenção coronária percutânea.


Imuno-mediadas

7 ECAs / n= 1.710, PRISMA/GRADE, Medline/EMBASE/CENTRAL até 08/22

P - Alopécia areata tratada c/ iJAK

*idade ~ 36-70A | AA há ~ 2-4A | SALT Score ~ 60-78

I - Inibidores JAK oral (ritlecitinib, brepocitinib, deuruxolitinib e baricitinib) ou tópico (ruxolitinib e delgocitinib)

C - Placebo

O 1º » MAIS re-crescimento de cabelo (SALT Score: 0-100) » OR 5 e 8 p/ melhoria >50% e >90% (baixa certeza GRADE)

» IGUAIS EAs e EAs graves (elevada certeza GRADE)

Comentário: Não conheço os 7 ensaios nem sequer conheço bem o SALT SCORE, mas não me parece nada mau...e a melhoria parece ter sido substancial. Fico com a dúvida do porquê terem utilizado odd ratio, que sobrestima a estimação pontual (ou seja, a magnitude do efeito), mas poderá ter havido uma razão. Acho sobretudo importante saber, com elevada certeza, que os iJAK não aumentam os efeitos adversos, mesmo quando por via oral!

Conclusão: iJAK parecem aumentar de forma relevante o re-crescimento folicular de adultos com alopécia areata sem aumentar os efeitos adversos.


 

ENSAIOS CONTROLADOS E ALEATORIZADOS

Endocrinologia

n=90 (de 123 rastreados), não-oculto, centro único nos EUA (Illinois, Chicago), 2021-2022

P - Obesidade

*peso médio: 100kg

I1 - Restrição de horário aKa Jejum intermitente --> 12h às 20h

I2 - Restrição calórica --> contagem de calorias e restrição de 25% / dia

C - Controlo --> comer em período de >10h/dia

O 1º » IGUAL perda de peso entre I1 e I2 após 12M c/ tendência numérica para maior perda com I2 (0.8kg...)

» MAIOR perda de peso entre I1 e I2 vs C após 12M » -4 a -5kg

2º » Sem diferença nos inúmeros desfechos bioquímicos e afins

» Sem EAs

Comentário: Enfim, que mais a dizer sobre isto? Mais uma vez, jejum intermitente sem vantagem quando comparado a restrição calórica. Bem jogado terem usado os 2 grupos de comparação restrição calórica e controlo sem restrição de horas ou calorias. E nem foram muito ambiciosos na restrição. Pois bem, ao fim de um ano, ambos os grupos de dieta perderam 4 a 5 kg, sem vantagem entre ambos. Ensaio pequeno e grande perda para follow-up (13 a 17%), é verdade, mas a probabilidade pré-teste de que jejum intermitente seja a dieta milagrosa continua a descer à medida que saem mais ensaios controlados e aleatorizados. No entanto, pode ser uma opção para quem não o consiga de outra forma. Cá para mim, ser-me-ia talvez mais difícil não comer até às 12h e depois das 20h que comer menos 25%...mas para quem prefira a via do jejum, okay, é uma via. Agora, "jejum intermitente é melhor que o resto"...não!

Conclusão: Restrição de horário aKa jejum intermitente sem vantagem face a restrição calórica mas com vantagem face a controlo sem dieta / regime alimentar específicos.


n=281, duplamente-oculto/camuflado, 42 centros nos EUA, 2021-2022

P - 18-75 A + DM2 HbA1C 7 - 10.5 % + Sobrepeso / Obesidade IMC 25 - 50 kg/m2

*idade e duração de DM2 médios: 53A e 8A | 20% perda para follow-up

I1 - Retatrutido SC 1x/S 0.5, 4, 8 ou 12 mg

I2 - Dulaglutido 1.5 mg

C - Placebo PO 1x/S

O 1º » MAIOR redução de HbA1C » -0.43 a -2 % c/ I1 vs -1.4 % c/ I2 e -0 % c/ C às 24S

» I1 > I2 a partir dos 8mg | I1 > C a partir dos 4mg

2º » Maior perda de peso às 36S » -3.6 a -16.9 % c/ I1 vs -2 % c/ I2 ou -3 % c/ C

» I1 > I2 e C a partir dos 4mg

» Mais EAs GI às 36S » 13 a 50 % c/ I1 vs 35 % c/ I2 ou 13 % c/ C

» Zero hipoglicémias graves ou mortes

Comentário: Na semana passada trouxe o ensaio do retatrutido nos obesos do NEJM, agora trago o retratutido nos diabéticos do Lancet. Este comparou tanto com controlo como como outro aGLP1, o que destaco!! Não é todos os dias que vemos comparador activo e placebo no mesmo ensaio. Podia era ter sido o semaglutido...mas enfim. ECA ainda de fase 2, pequeno e sem grande certeza na magnitude do efeito. Grande perda para follow-up e não consigo ver as caraterísticas basais para perceber se são sobretudo diabéticos obesos ou nem tanto.

Conclusão: Novo agonista triplo (GLP-1, GIP e glucagon) subcutâneo, retratutido, parece muito eficaz na redução de HbA1C e ainda mais de peso quando usado em adultos c/ diabetes mellitus do tipo 2 há algunas anos e também com sobrepeso ou obesidade.


n=938 (1.514 rastreados), duplamente-oculto/camuflado, multicêntrico em 7 países, 2021-2023

P - >18A + DM2 HbA1C 7 - 10 % + Sobrepeso / Obesidade IMC>27 kg/m2

*HbA1C~8% | Peso~101kg | IMC~36 kg/m2

I1 - Tirzepatido SC 1x/S 10 mg

I2 - Tirzepatido SC 1x/S 15 mg

C - Placebo PO 1x/S

O 1º » MAIOR perda de peso às 72S » -12.8 % c/ I1 e -14.7 % c/ I2 vs -3 % c/ C

» MAIOR redução de 5% às 72S » 79% c/ I1 e 83 % c/ I2 vs 32 % c/ C

2º » Mais EAs GI às 72S - 7% graves e <5% c/ descontinuação

Comentário: Outro! E calma, que ainda vamos no início desta semana (semanas!) incretintensíssima. Positivo e blablabla com grande perda de peso em comparação com placebo num ensaio de fase 3...mas fica o grande senão de não ter sido comparado com outro aGLP1 como semaglutido (neste ensaio, pois já foi feito). Já fica difícil enquadrar e interpretar tudo isto, mas espero que, pelo menos, sirva para reduzir o preço destes fármacos caros. Por outro lado, assusta-me que as pessoas e a própria sociedade passe a achar que isto é a cura de todos os seus males, sacralizando a sua vida num único e pequeno (porém caro) comprimido. É um assunto com muitas nuances...mas no final, deixa um grande espaço e desafio para o médico generalista ajudar o doente / adulto a tomar a melhor decisão partilhada sobre a sua saúde. eu: a meu ver, cada vez mais caminharemos para isto, uma realidade em que a existência de um médico generalista conselheiro será essencial para integrar tudo o que a própria realidade e os motores de IA nos dão.

Conclusão: Tirzepatido muito eficaz na perda de peso em ensaio de fase 3, na ordem dos 15% quando comparado com placebo.


n=1606 (de 2994 rastreados), duplamente-oculto/camuflado, 177 centros em 14 países, 2021-2022

P - 18-75 A + DM2 HbA1C 7 - 10.5 % + Sobrepeso / Obesidade IMC 25 - 50 kg/m2

*HbA1C~9% | Peso~96.4kg

I1 - Semaglutido 25mg qd PO

I2 - Semaglutido 50mg qd PO

I3 - Semaglutido 14mg qd PO

O 1º » "Maior"... redução de HbA1C às 68S » -0.3 % c/ I1 e -0.5 % c/ I2

2º » Mais EAs GI às 68S » 79-80 % c/ I1 e I2 vs 76 % c/ I1

Comentário: Bem, até eu que geralmente nunca recuso mais um ECA já estou enjoado de todos estes ensaios na obesidade e diabetes...e ainda não acabou...ao menos agora temos novidades em relação a semaglutido oral, desta feita em dose aumentada, finalmente (o ensaio prévio com os 14mg não tinha sido muito famoso e inferior ao semaglutido subcutâneo). Okay, redução um pouco (muito pouco) maior de HbA1C e sem grande aumento de efeitos adversos. Mas e o peso??? Não era isso que queríamos mesmo saber? Aguardaremos.

Conclusão: Semaglutido oral 25 ou 50 mg um pouco melhor que 14 mg a reduzir HbA1C. Clinicamente relevante?


n=667 (de 709 rastreados), duplamente-oculto, 50 centros em 9 países de vários continentes, 2021-2022

P - Obesidade ou Sobrepeso (IMC>27) c/ HTA, dislipidemia, DCV ou SAHOS + Sem DM2 + Peso estável últ. 3M

*HbA1C~?% | Peso~?kg

I - Semaglutido 50mg qd PO

C - Placebo qd PO

O 1º » MAIOR perda de peso às 68S » -15 % vs -2 %

» MAIOR redução de 5% às 68S » 85 % vs 26 % - OR 12.6, (IC 95%, 8.5 a 18.7; p<0.0001)

2º » Mais EAs GI às 68S » 80 % vs 46 %

Comentário: Pronto, a resposta à minha pergunta anterior está aqui. E cá vamos nós, caminhando em frente nesta jornada de bulímia auto-induzida para a operação bíquini não falhar! Fora de brincadeiras, 80% de EAs é muito...mas perder 15% do peso com um comprimido oral também. Suspeito que isto será uma novidade tremenda e fará gerar maior interesse em comercializar e aprovar o semaglutido oral. O que escolher? Viver enjoado ou viver abarrigado?

Conclusão: Semaglutido oral 50 mg muito eficaz na perda de peso, mas muitos efeitos adversos.


n=383 (de 569 rastreados), duplamente-oculto, 45 centros em 4 países (EUA, Hungria, Polónia e Eslováquia), 2021-2022

P - >18 A + DM2 HbA1C 7 - 10.5 % + dieta e exercício +- metformina + IMC > 23 kg/m2

*Idade~59A | HbA1C~8% | IMC~35 kg/m2

I1 - Orfoglipron PO qd 3, 12, 24, 36 ou 45 mg

I2 - Dulaglutido 1.5 mg 1x/S

C - Placebo PO 1x/S

O 1º » MAIOR redução de HbA1C às 26S » -2.1 % c/ I1 vs -1.1 % c/ I2 e -0.43 % c/ C

» I1 > I2? | I1 > C

2º » Maior perda de peso às 26S » -10.1 kg c/ I1 vs -3.9 kg c/ I2 ou -2.2 kg c/ C

» Mais EAs às 26S » 60 a 90 % c/ I1 vs 56 % c/ I2 ou 62 % c/ C

» Mais EAs GIs às 26S » 44 a 70 % c/ I1 vs 34 % c/ I2 ou 18 % c/ C

» Mais hipoglicémias (<54) clinicamente significativas? - 3 c/ I1 vs 1 c/ I2

Comentário: Já nem apetece mesmo falar sobre isto. Mas último esforço para um novo fármaco que já na semana passada tinha dado provas na obesidade, e agora na DM2...e também é oral!! Aguarda o ensaio em que será comparado com semaglutido oral (haverá?). Até então, é mais uma hipótese de aGLP1 PO.

Conclusão: Novo agonista (parcial) GLP-1 oral, orfoglipron, parece também bastante eficaz na redução de HbA1C, além da eficácia que já tinha demonstrada na perda de peso de que falámos na semana passada.


n=92, duplamente-oculto, 17 centros dos EUA, 2021

P - DM2 c/ metformina +- iSGLT2 + Sobrepeso / Obesidade IMC>27 kg/m2

*idade~58A

I1 - Semaglutido/cagrilintido (CagriSema) SC 1x/S escalado até 2.4mg

I2 - Semaglutido SC 1x/S escalado até 2.4mg

I3 - Cagrilintido SC 1x/S escalado até 2.4mg

O 1º » IGUAL redução de HbA1C I1 vs I2 às 36S » -2 % em ambos

2º » Mais perda de peso c/ I1 às 36S » -15 % c/ I1 vs -5 % c/ I2 vs -8 % c/ I3

» Iguais? EAs às 36S » 70-80%

» Mais EAs GIs às 36S c/ I1

Comentário: E...finalmente! Último ensaio neste tema, já tamos todos fartos. Ensaio muito pequeno mas o único original. Original, pelo menos, para mim, não fazia ideia desta tentativa de combinar semaglutido com um análogo de amilina de longa-duração, o cagrilintido. Nem sabia bem o que era amilina, mas já relembrei a fisiopatologia de há alguns atrás e vi que é outra hormona secretada pelas células beta pancreáticas (como a insulina!) com todos os efeitos teóricos das GLP1 (saciedade precoce e atraso do esvaziamento gástrico) excepto a própria secreção em si de insulina que os GLP1 promovem. Resultado: negativo. Não parece haver vantagem na HbA1C quando comparado com o semaglutido. Se haverá vantagem no peso ou não, ainda cedo para saber (este resultado supostamente positivo foi através dum desfecho secundário e ensaio muuuuuito pequeno). Fim!...por enquanto.

Conclusão: CagriSema não superior na diabetes e com mais efeitos adversos. Maior perda de peso? Não sabemos.


Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos

n=4.936, duplamente-oculto (ocultação: cirurgião não ; investigador qd/ possível) 26 centros no Reino-Unido, 18-21

P - Adultos >60A + Fractura da anca + Ind. p/ hemiatroplastia cimentada

I - Antibioterapia local dupla (gentamicina e clindamicina)

C - Antibioterapia local única (gentamicina)

O 1º » IGUAL frequência de infecção profunda da ferida cirúrgica (ITTA e PPA)

Comentário: Não percebi muito bem o que motivou o ensaio, pois desconhecia esta discussão sobre se seria mais vantajoso fazer antibioterapia dupla. Sem comentar muito porque não muda a (pelo que percebi) prática: mais uma vez, menos é mais e hipótese nula vence.

Conclusão: Antibioterapia local dupla não diminuiu as infecções profundas relacionadas com fractura de anca tratada com hemiatroplastia cimentada.

 

ESTUDOS OBSERVACIONAIS

REVISÕES SISTEMÁTICAS COM ESTUDOS OBSERVACIONAIS (com ou sem ECA)

Endocrinologia

n=60 estudos (MA de 56) / 12.077 doentes, PROSPERO, PubMED / EMBASE até 01/2023

Apesar da grande heterogeneidade, o grosso dos estudos parece apontar para que infecção por enterovírus (especialmente do tipo B) se relacione com doença imuno-medidado dos ilhéus pancreáticos e até da etiopatogénese de diabetes mellitus do tipo 1. Pode ser um sinal muito positivo para futuras terapêuticas...mas calma, além de dados incertos, muitos passos faltam até chegar à proposta da conclusão de vacinas anti-enterovírus com este propósito.


PRIMÁRIOS - SUB-ANÁLISE / COORTE / CASO-CONTROLO / INQUÉRITOS / A. ECONÓMICAS

Cardiovascular

n~1.000 (hipotético), análise económica (Markov), extracção de custo e eficácia da literatura, perspectiva pagador

Ui, este estudo vai gerar controvérsia, caso seja levado a sério. Os autores decidiram extrair os dados da literatura (revisões sistemáticas) de doentes com TEV não-provocado que fizeram pelo menos 3-6 meses de anticoagulação e hipotetizar o seguimento com 2 coortes teóricas de adultos de 55 anos através de um modelo de Markov, uma com intervenção de NOAC por tempo indefinido e outra com objectivo de suspender NOAC. Com os dados extraídos hipotetizaram os desfechos clínicos e fizeram uma análise de custo-efectividade. Concluiram que a AC por tempo indefinido pouparia 368 eventos de TEV, incluindo 14 TEPs fatais, mas também induzindo 114 hemorragias major, incluindo 30 hemorragias intra-cranianas e 11 mortes por hemorragia. Na análise custo-efectividade custo/QALY, verificaram que AC indefinida acarretaria aumento de 12.000eur por doente sem benefício nos QALYs - ou seja, não-custo efectivo. Na análise de subgrupos, no entanto, estimaram que, tratando-se de evento inicial de TEP, haveria uma probabilidade de 80% de melhoria em QALYs e 24% de custo-efectividade. Também estimaram que o benefício nos QALYs seria maior com dose-reduzida de NOAC, apesar de continuar não custo-efectivo (dados de apenas 2 ECAs, no entanto). O que aproveitar de tudo isto?...não sei se muito...apesar de tudo, trata-se de um modelo. É relevante saber a comparação (indirecta) entre eficácia e segurança, mas com um grande grau de imprecisão. Talvez dê alguma maior confiança para continuar AC indefinida no TEP e parar em casos seleccionados de TVP?


Diagnóstico e Raciocínio Clínico

n=48.903, estudo retrospectivo de registo RIETE (base de dados mundial de TEP), 2001-2021

Mais dados a favor da "regra PERC". Tenho usado bastante, ainda mais desde a minha estadia temporária no Canadá (onde é usada por norma), e fica aqui mais prova a favor do mesmo, em que apenas 0.7% dos quase 50.000 doentes com TEP tinham PERC 0. Mesmo nesses 0.7%, a associação com desfechos negativos é menor.


Endocrinologia

estudo de prevalência + modelo p/ 2050 com base em prevalências de 2021, 204 países e territórios

Este estudo de prevalência mais modelo ambicioso disse-nos o que todos sabemos, DM2 e obesidade estão a aumentar. Resolvi trazê-lo porque vem mesmo a calhar com todos os ensaios nos fármacos curandeiros da obesidade. Se esta percentagem de obesidade a contar 25% para diabetes for verdade e, tendo em conta que, quer gostemos ou não, a obesidade continua a aumentar a passos largos, será isto justificação para os ditos elixires?


Gastroenterologia & Hepatologia

n=267, coorte prospectiva c/ propensity score matching, STROBE, multicentros na China

Neste estudo interessante e de génese prospectiva e pré-especificada, seguiu-se uma coorte de adultos com pancreatite aguda c/ sintomas >72h e hipertTG (>1000mg/dl) e foi feito "emparalhemanto por propensão". Os 56 que receberam plasmaferese foram emparelhados com os que não receberam, resultado numa subcoorte emparelhada de 47 doentes. Depois do emparelhamento, viram que a plasmaferése não reduziu os dias de disfunção orgânica e aumentou bastante a admissão em UCI - 94 vs 51 % !! Até à publicação do Bi-TIPAI ainda não temos um ensaio largo, apenas coisas muito pequenas como este recente. No entanto, com o que já temos, não parece haver melhoria com plasmaferése. E este estudo prospectivo com um dos melhores métodos de emparalhemanto da praça comprova-o.


CASOS CLÍNICOS e SÉRIES DE CASOS

Geral, Geriatria & Paliativos

Nem tudo é o que parece mas pode até ser melhor que parece.

 

OPINIÃO

REVISÃO NARRATIVA

Diagnóstico e Raciocínio Clínico

Bom resumo da nova área de entusiasmo no mundo POCUS: a avaliação da congestão venosa e o chamado VExUS score. Confesso que sou entusiasta da utilização de POCUS e desde que, há uns 3-4 anos, ouvi um Philippe Rola a descrevê-la com entusiasmo no seu blogue (Thinking critical care) e no famoso EMCrit, fiquei entusiasmado. Ao mesmo tempo, sou ainda mais entusiasta da medicina baseada na prova, pelo que de momento ainda estou expectante para ver se isto de facto trará benefício orientado ao doente. Suspeito que nos doentes com insuficiência cardíaca e sobretudo síndrome cardio-renal poderá ser fundamental para separar congestão de depleção venosa. Mas prefiro aguardar mais estudo antes de começar a apregoá-la aos sete mares.


PERSPECTIVA

Geral, Geriatria & Paliativos

A prova de que pode haver uma opinião simbiótica entre médicos de diversas especialidades como oncologia, hematologia e geriatria em prol de mais conversas de discussão de objectivo de cuidados está neste artigo de perspectiva. Interessante esta espécie de pitch curto e grosso a favor dessa discusão para todos, investigadores, médicos, organizadores e pagadores.


Perspectiva baseada num inquérito realizado aos sócios da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna sobre a recém-aprovada lei da "eutanásia".


Infecciologia, Microbiologia & Antimicrobianos

Mycoplasma pneumoniae sumiu depois do COVID?? Não fazia ideia desta situação até há uns dias atrás quando vi este mesmo artigo a ser partilhado e discutido no twitter. Não acompanho a discussão porque, nestas coisas e assim como no próprio COVID19, monkeypox e outros que tais, cada vez acho mais precavido darmos tempo ao tempo para evitar precipitações...e eu cá não gosto mesmo nada de chuva!


 

FOAMed

Cardiovascular

Resumo: Lp(a) e ApoB além de não superiores aos FR tradicionais parecem ser equivalentes a outros testes bioquímicos como contagem leucocitária.


Doente crítico/urgente

Dois mestres de especialidades diferentes (o que provavelmente reflecte a diferente opinião) a discutir um estudo "antes e depois" sobre a chamada "PanTC" (TC-CE sem contraste + TC-torácico com contraste preferencial/ c/ estudo coronário + TC-AP sem pausa venosa) no pós-RCP. Leiam e/ou oiçam!


Muito interessante esta reunião sobre o estado da arte na medicina intensiva, com o resumo dos grandes ensaios da medicina intensiva publicados recentemente. Não sou intensivista, mas como internista que faz urgência acabo quase sempre por lidar com o pré- e pós-UCI, pelo que acho fundamental estar informado sobre a melhor prova existente de tratamento nesse lugar. bom ver uma conferência mais focada nos grandes resultados, sua utilidade e aplicação pragmática que nos estudos pequenos, observacionais e com desfechos não orientados ao doente.


Scott Weingart no seu estilo único de conseguir condensar informação complexa com muitos artigos recentes em poucos minutos, com mensagens curtas, pragmáticas e uma grande dose de comunicação exepcional.


 

ABA - Aumento de Benefício Absoluto | ARA - Aumento de Risco Absoluto | EBM - Evidence-based medicine | ECA - Ensaio controlado e aleatorizado | ITT - Intention-to-treat Analysis | MA - Meta-análise | MBE - Medicina baseada na evidência | NIT - Non-inferiority trial | NNH - Number needed to harm | NNT - Number needed to treat | PPA - Per protocol analysis | RR - Redução Relativa | RRA - Redução do Risco Absoluto | RS - Revisão Sistemática

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